gravetos

sábado, 23 de maio de 2015

agacho para pegar um graveto que está no chão e ao me erguer minhas costas estalam. não sou um homem velho, tenho vinte e dois anos e tenho um modo peculiar de viver a vida.

procuro ser um homem simples, assim como o Mestre o foi. Ele era simples, divertido, as pessoas gostavam de ficar com Ele, de ouvi-lo falando, e eu tento todos os dias ser uma pessoa como Ele, é claro, que se tento ser como o Rei Guerreiro serei perseguido.

nem todos gostaram/gostam do meu Mestre.


e sinceramente? eu não ligo. tenho me preocupado com a minha vida espiritual ultimamente, e mesmo que eu esteja aqui colhendo gravetos para minha fogueira eu me preocupo.

certa vez um menestrel me perguntou como eu conseguia viver da maneira que vivo. e que a minha forma de vida incomodava os outros, até mesmo os outros que eram iguais a mim.

na hora eu não soube muito bem o que responder, mas hoje já tenho um entendimento melhor.


como esses gravetos eu sou frágil, fraco e não cabe a mim julgar o que é certo e errado.

eu procuro estudar as escrituras, e buscar nEle as respostas. se hoje eu pudesse voltar no tempo e encontrar aquele menestrel diria algo parecido com isso:

— não vale a pena ficar preso ao tradicionalismo que todos seguem, eu procuro ter um relacionamento pessoal com o Eterno, e desenvolver os dons que ele me deu da melhor forma. a cada dia me esforço para que as minhas falhas não atrapalhem meu relacionamento com Ele. até mesmo naqueles dias que eu estou fraco eu tento, porque o poder dEle se aperfeiçoa na fraqueza. Ele é meu juiz e eu não posso fazer esse julgamento, se eu quero vencer o mal, Ele me dará o poder para isso, Ele é meu juiz, Ele é nosso juiz.

sorrio, essa até que é uma resposta boa.

mas que pode não convencê-lo de nada.

começo a caminhar de volta para o nosso acampamento. meu parceiro está lá me esperando, ainda deitado na barraca com a camiseta parcialmente levantada, mostrando sua barriga coberta de pintas.

me pergunto mentalmente quanto tempo passei fora colhendo gravetos.

cálculos.

é engraçado como nós gostamos de calcular tudo, sentimentos, tempo, nossos bens...

mas é engraçado parar para contar o tempo, em segundos, minutos, horas, dias, meses, anos... se nós só vivemos no presente, no agora e o passado já não importa mais, e mesmo que o futuro seja incerto, nós temos Esperança que ele será melhor.

é engraçado parar para pensar que o presente, foi o nosso futuro e será nosso passado um dia.

deposito os gravetos no chão e entro na barraca para te acordar.

o tempo na terra é curto, e eu quero viver não um minuto, um segundo, um dia, um ano, eu quero viver os momentos.

todos os momentos que Ele nos reservou.

— acorda — eu falo, e então sorrio.