21-03-2015

sábado, 21 de março de 2015

ele sempre foi um cara carente de atenção.

alguém feliz que não demonstra quando está triste, a não ser para alguns amigos que estão mais próximos – e mesmo assim rola aquela dificuldade para falar sobre alguns assuntos. apesar disso ele nunca escondeu o que sentia. se ama, logo fala e se não gosta faz o mesmo.

sempre tentou ser o engraçado da turma, mas era estudioso demais para ser o bagunceiro da sala. já sentou no fundo? sim! mas lá estava o seu livro do harry potter com ele e enquanto os professores falavam sobre química ele lia sobre poções e capas da invisibilidade; quando eles falavam sobre os teoremas e fórmulas ele desenhava um novo mundo só dele.

o fantástico e maravilhoso mundo de johncito.

o guerreiro sempre esteve presente em sua vida, desde suas primeiras palavras ele reconhece d-s em cada partícula do universo. o seu cuidado e carinho o trouxeram até onde ele está agora. as fases foram ficando cada vez mais difíceis, os chefes eram fáceis de destruir, afinal eles eram fracos e com os códigos qualquer jogo fica fácil. fácil até demais. vinte e dois anos, percebeu ao final dos vinte e um – seu número predileto – que a vida pode ser uma caixinha de surpresas, ainda mais quando você percebe que o grande chefão do jogo da vida está dentro de você, e cabe a você conhecê-lo e encontrar a melhor maneira de derrotá-lo, ou conviver com ele.

o jogo da vida, inicialmente, era perfeito. até que a primeira criatura resolveu usar códigos, para deixar o jogo mais fácil na cabeçinha oca dele, tolo, não sabia que as coisas já eram fáceis. depois de conhecer o mal e o bem, você fica meio louco e chega uma hora que você descobre que não sabe o que fazer com tanto poder. o jogo da vida então é atualizado para um nível maior, como se você fosse programado para ser um deus, e tivesse que jogar como a skin de um humano, todo “poder” e sensações boas prometidas, se esvaem. puf. e você é só um boneco de barro. o jogo da vida não se torna fácil, como esperado e as dificuldades vem. e todas as mentiras, todas as mentiras, você as vê. você vê prédios lotados de pessoas mortas que só fazem julgar, você vê as pessoas errarem. elas pregam o reavivamento, mas estão mortas por dentro. você está morto por dentro. você ora enquanto cada pixel do seu corpo sofre. cada pixel que o artesão idealizou, sofre, até mesmo as camadas mais densas, cada cor, cada célula. um virus. e então o pai entra em cena “ele não foi programado pra isso” – o nome disso é intervenção – e então você está afundando. seus cabelos estão encharcados, sua pele, dentro e fora, está molhada. você está afundando no oceano. graça. logo você que odeia fases aquáticas, logo você que não sabe nadar.

isso chega a ser engraçado. chega a ser irônico, mas o guerreiro está nadando ao seu lado e a “graça” de viver é essa: vencer cada nível, destruir os chefes que surgem, os monstros internos e manter a luz acesa para iluminar e conhecer seus próprios monstros.

o guerreiro navega ao seu lado, no mastro ninguém mais que o artesão, e o pai está no compartimento de cima observando as coisas em seu iDad, olhando para cada passo, cuidando de cada personagem do jogo da vida. e o boneco de barro está deitado no peito do guerreiro, ele já não é só um boneco de barro, depois de afundar ele não é mais o mesmo, ele está continuamente molhado. águas vivas. abundantes. ele ouve a respiração do guerreiro e o seu coração que bate como o som de mil tambores.

e então o olhos castanhos suspira na esperança que esse novo nível/ciclo que acaba de ser desbloqueado seja mais difícil que os outros vinte e um que já se passaram, afinal, níveis dificeis = mais experiência, armaduras novas, armas novas, cenários novos, monstros novos, gold e quem sabe até uma montaria!

o pai sorri com seu iDad em mãos “será que ele sabe o que o espera?”.